Presidente interino marca eleições na Argélia para 4 de julho

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ARGEL — A Argélia vai realizar uma eleição presidencial em 4 de julho, anunciou o governo nesta quarta-feira, depois de semanas de protestos em massa que levaram à renúncia do líder Abdelaziz Bouteflika. Na terça-feira, o presidente interino Abdelkader Bensalah havia dito que organizaria eleições livres dentro de 90 dias.

Apesar do anúncio, Bensalah, presidente do Conselho da Nação (Câmara alta do Parlamento) há 17 anos e considerado como parte do “sistema” representado por Buteflika, enfrentou nesta quarta-feira novos protestos e uma convocação para uma greve geral.

Mais cedo na quarta-feira, o comandante do Exército disse que esperava ver membros da elite dominante serem processados por corrupção e que apoiaria a transição para as eleições. Os comentários do tenente-general Gaid Salah foram o mais forte indício de que os militares continuarão a desempenhar seu tradicional papel como a instituição mais influente na definição do líder do país depois que Bouteflika, de 82 anos, curvou-se à pressão popular e deixou o cargo em 2 de abril, após 20 anos no poder.

— O Exército atenderá às demandas do povo — disse Salah, dirigindo-se a oficiais e soldados em uma base militar. — O Judiciário recuperou sua prerrogativa e pode trabalhar livremente.

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Salah se referiu à casta dominante como “a gangue”, um termo usado pelos manifestantes para descrever o círculo íntimo de Bouteflika, que incluía oficiais de inteligência aposentados, oligarcas, membros da Frente Nacional de Libertação (FNL) e alguns veteranos da guerra de 1954-62, a  guerra de independência argelina contra a França.

O chefe do Estado-Maior do Exército pediu ao Judiciário que reabra um processo de corrupção contra a gigante de gás e petróleo Sonatrach, um caso de ressentimento para muitos argelinos que acusam seus líderes de roubar a riqueza da nação norte-africana.

Mais de uma em cada quatro pessoas com menos de 30 anos, cerca de 70% da população, está desempregada — uma das principais queixas dos manifestantes que querem a economia liberalizada e diversificada para reduzir sua dependência econômica nas matizes energéticas.

Em 2012, uma série de escândalos sacudiu a Sonatrach, que era protegida por partidários de Bouteflika. Seu CEO e outros executivos foram presos por suborno.

Cautela do chefe do Exército

O Exército monitorou pacientemente a agitação, que começou no dia 22 de fevereiro. Então, Salah interveio, declarando Bouteflika — raramente visto em público desde que sofreu um derrame em 2013 — incapaz de governar.

Caso Bouteflika tivesse continuado com seu plano original de concorrer a um quinto mandato, apesar da crescente oposição, isso colocaria os militares sob pressão para restaurarem a ordem, em vez de se concentrar em influenciar a política pelos bastidores.

— Não é razoável administrar o período de transição sem instituições que organizem e supervisionem essa operação — disse Salah, apoiando os líderes interinos.

Os generais da Argélia são altamente sensíveis à instabilidade. No início dos anos 90, o Exército cancelou uma eleição que os islamistas estavam prestes a vencer, provocando uma guerra civil que matou cerca de 200 mil pessoas.

— O Exército está pressionando os manifestantes para que apoiem o plano de realizar eleições em 90 dias, mantendo a transição dentro do marco constitucional — comentou o analista independente Ferrahi Farid antes do anúncio da data das eleições.

Os militares enfrentaram pouca resistência dos manifestantes; em vez disso, a fúria nos protestos foi dirigida ao que é popularmente chamado de “a fortaleza”: uma velha guarda associada à Frente de Libertação Nacional que está entrincheirada há décadas.

Ainda assim, alguns argelinos estavam cautelosos depois de ouvir as promessas de Salah.

— Estamos felizes pelo Exército estar pedindo a acusação de pessoas corruptas. Mas isso não fará com que abandonemos nossas demandas —  disse o estudante Nabil Arrachi, de 25 anos.

No centro da capital, Argel, local das marchas de massa nas sucessivas sextas-feiras desde o início da agitação, o professor Halim Hachni se sentou em uma cafeteria contemplando o futuro de seu país e se perguntando sobre o papel do Exército nisso.

— Do ponto de vista constitucional, acho que o Exército não pode intervir diretamente demitindo funcionários interinos atuais e nomeando novos em seus lugares —  disse ele.

A Ennahar TV informou que o Ministério do Interior emitiu licenças para 10 novos partidos políticos. Embora a Argélia tenha cerca de 15 partidos da oposição, eles são vistos como fracos, e a ação do ministério parece ter como objetivo aplacar os desejos dos manifestantes, que buscam um grau maior de democracia.

Na terça-feira, o Parlamento nomeou Bensalah, o presidente do Conselho da Nação (Câmara alta do Parlamento), como presidente interino. A renúcia de Bouteflika não satisfez os manifestantes, que rapidamente se reuniram aos milhares em Argel, agora para exigir a remoção da elite do poder e reformas estruturais.



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