Por falta de acordo sobre sociedade, BRF e Marfrig desistem de fusão

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Os frigoríficos BRF e Marfrig desistiram de uma possível fusão. O motivo anunciado foi falta de consenso em relação “à governança da sociedade” que resultaria da operação, segundo comunicado enviado pelas empresas à Comissão de Valores Mobiliários na noite desta quinta-feira, 11.

As empresas anunciaram no fim de maio que estavam discutindo a eventual fusão e que seus conselhos de administração haviam aprovado a assinatura de um memorando que previa um período de exclusividade de 90 dias.

Segundo relataram a EXAME fontes próximas à negociação, a transação empacou quando Marcos Molina, fundador e maior acionista da Marfrig, discordou do tamanho da participação que teria na companhia resultante da fusão. O desenho inicial previa que os acionistas da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, ficariam com 85% da nova empresa e os da Marfrig, com 15%. Molina, com 36% da Marfrig, teria cerca de 6%.

A união criaria um gigante com faturamento anual de 76 bilhões de reais. A BRF teve faturamento de 34,5 bilhões de reais em 2018, ante 29,7 bilhões da Marfrig (que chegaria a 41,4 bilhões de reais se incorporados os números da National Beef, frigorífico americano comprado no ano passado pela empresa brasileira).

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Cálculos da consultoria Economatica apontavam que, com base nos valores de mercado das empresas no fim de maio, a nova companhia originária da fusão seria a quarta mais valiosa do mundo no segmento de carnes. A empresa resultante da fusão teria, na época, valor de mercado estimado de 28 bilhões de reais, segundo informaram as próprias BRF e Marfrig em comunicado após o anúncio das negociações.

A fusão, se concretizada, uniria negócios que atuam com enfoques distintos. A BRF é líder no Brasil na produção de carne de frango e de porco, enquanto a Marfrig foca na produção de carne bovina, sendo vice-líder mundial no segmento, atrás apenas da também brasileira JBS.

O fim dos planos de fusão não afetará o relacionamento das empresas e “não haverá quaisquer modificações nas práticas, condições e termos previstos em contratos por elas celebrados”, segundo comunicado assinado pelo diretor-presidente global da BRF, Lorival Nogueira Luz Jr.

A BRF e a Marfrig têm uma parceria para distribuir produtos como hambúrgueres e outros produtos congelados em quiosques de supermercados. Foi justamente dessa parceria que as duas produtoras de alimentos começaram a conversar sobre a possibilidade de se unirem definitivamente.

As controvérsias da fusão

Com a transação, as duas companhias iriam reincorporar atividades das quais haviam se livrado porque não se encaixavam em seus negócios.

Em 2009, a Marfrig comprou a produtora de frango, suínos, embutidos e pratos prontos Seara da americana Cargill por 900 milhões de dólares, mas a vendeu quatro anos depois para a JBS por 5,8 bilhões de reais. 

Já a BRF, em meio a uma crise de gestão e sucessão de prejuízos, vendeu no passado para a própria Marfrig sua subsidiária argentina de carne bovina QuickFood e uma fábrica de hambúrgueres, almôndegas e quibes bovinos em Mato Grosso. A empresa também vendeu unidades na Europa e na Tailândia. 

A BRF registrou em 2016 seu primeiro prejuízo anual da história, de 372 milhões de reais, e teve novo prejuízo no ano passado, de 4,4 bilhões de reais. As perdas continuam, e entre janeiro e março deste ano, a empresa registrou prejuízo de 1 bilhão de reais, o terceiro trimestre consecutivo de perdas. Neste cenário, o executivo Pedro Parente assumiu em abril de 2018 a liderança do conselho de administração da empresa e tentava consertar os erros de gestão.

Quando as negociações de fusão foram anunciadas, executivos, analistas e investidores ouvidos por EXAME se mostraram cautelosos quanto ao processo. 

As fábricas das duas empresas, por exemplo, possivelmente continuariam separadas, já que os processos de processamento de frangos, suínos, bovinos, peixes e frutos do mar – que a Marfrig produz no Chile – são muito diferentes e as possibilidades de ganhos com a integração de operações eram limitadas.

“Temos opinião mais cautelosa aqui por conta da falta de sinergias vista nas últimas transações do setor, como a compra da Seara pela Marfrig e a fusão da Sadia com a Perdigão”, escreveram Thiago Duarte e Henrique Brustolin, analistas do banco de investimentos BTG Pactual, em relatório no dia do anúncio das negociações de fusão, no fim de maio.



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