Pedro Paulo Rangel celebra 50 anos de carreira e diz que deu ponto final às novelas: ‘Já cumpri esse carma’

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Poucos argumentos são capazes de adubar a mente de Pedro Paulo Rangel com otimismo. Aos 70 anos, o ator se vê constantemente sobressaltado por uma espécie de pergunta insolúvel: quando, como e por que, de repente, uma maioria passou a cultivar tanto desprezo pela cultura e pela memória do país? Não dá para entender tanto desinteresse, ele mesmo responde, após se indagar. Apesar do pesar, o artista não abandona o ofício. Não tem jeito.

— O brasileiro é condenado à esperança. Vou rebocado nisso. Se tenho uma certeza, é esta: não vou parar nunca — ressalta Pepê (como é conhecido), que estreia o monólogo “O ator e o lobo” no Teatro Poeira, em Botafogo, na Zona Sul do Rio
(confira o roteiro atualizado de teatro)
, após elogiada temporada em São Paulo.

Levantado com recursos próprios após cinco anos de buscas em vão por patrocínio (“Apenas o Sesc nos estendeu a mão”, ele diz), o espetáculo com direção de Fernando Philbert marca as celebrações pelas cinco décadas de carreira do homem conhecido por tipos memoráveis na TV, nos palcos e no cinema.

Agora, sobre um banco fincado num cenário simples, o ator usa a voz e o gestual para erguer histórias e personagens circunscritos à obra do escritor português António Lobo Antunes, num ensaio poético sobre a memória, a solidão e a família. Ao universo evocado pelas crônicas do consagrado autor (cujos livros estão esgotados e sem previsão de reedição por aqui), misturam-se pequenos textos redigidos pelo próprio Pepê.

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Em cena, causos corriqueiros e pitorescos ganham forma: uma mulher vive como amante de um senhor; um menino foge de casa porque não quer comer abóbora; dois velhos amigos se reúnem no hospital; um homem espera a mulher na chuva. São causos em que sobressaem aspectos universais da humanidade.

— Foram mais de 400 crônicas lidas em nossa pesquisa, e todas parecem que foram feitas para serem ditas. Lobo Antunes é múltiplo e consegue se subdividir dentro dele mesmo. Para o ator, isso é um presente — destaca.

O número robusto — meio século dedicado à profissão — não assusta. Tampouco serve de motivos para lamentos nostálgicos.

— Olho para trás, mas quero ver a frente. Ainda tem muita coisa que desejo fazer — diz, acrescentando que deu um ponto final ao trabalho em novelas (a última foi em 2012). — Muitas pessoas me abordam na rua, cobrando que volte à TV. Se me chamarem para algo curto, como uma série, eu vou. Mas novela? Não. Já cumpri esse carma. Não tenho mais saúde
[o ator sofre de doença pulmonar obstrutiva crônica]
para me dedicar a um trabalho intenso de 11 meses com eventuais externas à noite.

Teatro Poeira:
Rua São João Batista 104, Botafogo — 2537-8053. Sex e sáb, às 21h. Dom, às 19h. R$ 70. 60 minutos. Não recomendado para menores de 14 anos. Até 2 de junho.



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