Espanha vende vilarejos fantasmas por menos de US$ 100 mil

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MADRI – A evolução demográfica deixou o interior da Espanha com centenas de vilarejos abandonados, onde são comuns histórias como a de Gustavo Iglesias. Assim como outros moradores de Acorrada, na Galícia, Iglesias se mudou para uma cidade maior para trabalhar, deixando para trás uma aldeia com seis casas de pedra e dois armazéns de grãos. A família dele viveu ali por várias gerações, criando gado e plantando trigo, mas, quando seu pai morreu, há cerca de 30 anos, o local ficou vazio e descuidado.

I

glesias — hoje com 57 anos e oficial de segurança no porto de Burela, um centro pesqueiro na costa da Galícia — se uniu a dois outros proprietários de terras em Acorrada para colocar o vilarejo à venda, em uma tentativa de dar vida nova ao lugar. Eles pedem apenas € 85 mil (US$ 96 mil).

— Queria que alguém comprasse e reformasse para que continuasse vivo — disse Iglesias.

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O interior da Espanha está cravado de vilarejos abandonados que agora estão à venda. Para o governo do primeiro-ministro Pedro Sánchez, que colocou a reversão do êxodo da população rural como prioridade quando assumiu no ano passado, a medida pode ajudar a conter a desertificação antes que vire uma crise.

— Precisamos estar cientes do inverno demográfico que ameaça grande parte do nosso território — disse Sánchez durante uma conferência na terça-feira. — Metade dos municípios da Espanha tem menos de mil habitantes, e grande parte do nosso território corre risco de ficar despopulado.

1.500 vilas abandonadas

Aventureiros estrangeiros e empreendedores espanhóis são considerados parte da solução. A corretora de imóveis Aldeas Abandonadas vendeu aproximadamente 40 vilarejos no ano passado, e os estrangeiros foram responsáveis por 90% das transações. A corretora ganhou notoriedade quando a atriz Gwyneth Paltrow sugeriu em seu website que um dos vilarejos listados daria um belo presente de Natal.

— As pessoas estão vindo do mundo inteiro para comprar — disse o gerente Pepe Rodil, citando a culinária local (como polvo, mariscos e sopas com feijão, carne suína e chouriço) como fator que atrai compradores.

A Espanha tem aproximadamente 1.500 vilarejos em situação de abandono, segundo Elvira Fafian, fundadora da corretora Aldeas Abandonadas. Os locais estão sendo postos à venda porque os proprietários são obrigados por lei a cuidar dos imóveis, e muitos não conseguem pagar.

Taxa de natalidade muito baixa

A tendência de urbanização que esvazia áreas rurais pela Europa é especialmente dramática na Espanha, onde 53% do território tem densidade populacional inferior a 12,5 habitantes por quilômetro quadrado — uma das piores taxas da Europa Ocidental. O fenômeno se tornou assunto na campanha para as eleições de abril. Na semana passada, o partido Ciudadanos, de oposição, propôs cortar impostos para municípios onde vivem menos de oito pessoas por quilômetro quadrado.

A taxa de natalidade de 1,3% que o país registrou em 2017 foi a segunda menor da União Europeia (atrás somente de Malta). A falta de jovens significa que não há gente para tomar o lugar dos idosos, nem empreendedores capazes de gerar empregos e incentivar a economia desses locais.

Madri, Barcelona e cidades menores na costa mediterrânea ainda não enfrentam os níveis de poluição, trânsito e infraestrutura sobrecarregada comuns nas grandes metrópoles, mas isso deve mudar.

— Muitos especialistas estimam que 70% da população estará vivendo em megacidades em 2050 — disse Isaura Leal, que foi comissária de despopulação rural. — Acreditamos que temos a capacidade de reverter esse processo. Ainda dá tempo.



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