A mudança repentina na vida de escolas, pais, professores e alunos tem exigido uma dose extra do trabalho dos envolvidos. No WhatsApp, os respectivos grupos trocam ideias, lamúrias e dicas de como melhorar o rendimento nesta época de quarentena provocada pela pandemia do coronavírus.
Não sabemos como o vírus se comportará, mesmo diante das medidas de isolamento impostas pelas esferas municipal e estadual. Muito menos por quanto tempo elas serão necessárias. Ainda que o cenário seja incerto, há alguns cuidados que são válidos no período letivo com aulas presenciais e que merecem ser reforçados em tempos de educação domiciliar muitas vezes improvisada.
A pedagoga Anna Helena Altenfelder, doutora em Psicologia da Educação e presidente do conselho do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, enumera como escolas, professores e famílias podem lidar com essa fase.
+ Como pais, professores e escolas lidam com as aulas na quarentena
Escolas e professores
– É preciso ter agilidade na tomada de decisões. Uma boa saída é estabelecer um comitê de gestão de crise, com participação da direção escolar, da coordenação pedagógica e de representantes de professores, funcionários, estudantes, mães, pais e responsáveis.
– Mantenha comunicação constante, clara e direta com toda a comunidade escolar e garanta a criação ou o reforço de canais de diálogo existente: telefone, e-mail, ferramentas de troca de mensagem instantânea, seções fechadas em portais educacionais, entre outros.
– Menos é mais. Se a escola não optou por antecipar o período de recesso escolar, será preciso entender que não é possível manter o mesmo currículo programado no início do ano. O volume e o ritmo de trabalho terá de ser menor. A recuperação do restante deve ficar para a volta às atividades presenciais.
– Ensino à distância (EAD) não é transposição da sala de aula para o digital. Não importa de quais ferramentas tecnológicas sua escola disponha. Se não existia uma metodologia de educação a distância já implementada, ela não será criada emergencialmente, em poucas semanas, para 100% da carga horária e para todas as disciplinas. No entanto, é possível realizar, com equipamentos relativamente simples, muitas atividades educativas que contribuem substancialmente para o desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens.
– Garanta apoio e condições de equidade. Esteja sempre atento às condições, tanto de professores quanto dos estudantes e das famílias, para realizar atividades remotas. Devem ser consideradas desde as condições objetivas, como acesso a equipamento tecnológicos adequados e a conectividade de internet, quanto aspectos subjetivos, como a idade e maturidade dos estudantes, a organização do espaço domiciliar, o tempo e o capital cultural das famílias.
– Planeje a volta às aulas presenciais. Ainda que não seja possível prever quando acontecerá, as aulas presenciais serão retomadas e vão requerer uma série de medidas a serem tomadas agora. O que for trabalhado nesse período não poderá ser considerado “conteúdo dado”. Será preciso prever desde novos calendários escolares até o trabalho de aceleração e recuperação dos conhecimento, competências e habilidades curriculares, até um período de readaptação dos estudantes.
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Família
– Independentemente da idade do estudante, a participação e o apoio de mães, pais e responsáveis é fundamental para que as atividades educativas aconteçam. Esteja atento aos comunicados e à dinâmica proposta pela escola e não hesite em tirar dúvidas. Para não sobrecarregar ninguém, a tarefa pode e deve ser compartilhada por mais de um adulto da casa.
– Garanta condições de aprendizagem. É importante criar uma rotina de estudos. A vantagem é que os dias e horários podem ser mais flexíveis. Isso se não estiverem previstas atividades com interação sincrônicas. Prepare um espaço adequado para o estudo, sem distrações, com materiais e mobiliário mais adequados possíveis.
– Trabalhe a construção de autonomia. Aproveite para construir esses combinados de forma dialogada, principalmente com os mais velhos. Mas lembre-se: quem coloca os limites é você. Com estudante no Ensino Médio, seu trabalho será mais de supervisão geral da rotina, com intervenções pontuais. Para estudante dos anos finais do Ensino Fundamental, é possível apenas retomar as orientações e atividades no início do dia e repassá-las após seu desenvolvimento, para tirar dúvidas. Já para os mais novos, será preciso ter um papel mais ativo de tutoria durante as atividades.
– Menos é mais. Entenda que não será possível manter o mesmo tempo de estudos e o mesmo volume de competências e habilidades curriculares previstas inicialmente. Como não há interação com professores e colegas, o que é parte importante da educação escolar, o tempo de estudo individual pode ser bem menor.
– Passar mais tempo em casa com os filhos, ainda que numa rotina de homeoffice e cuidados com a casa, pode ser uma ótima oportunidade para fortalecer vínculos familiares e favorecer outras aprendizagens. É possível convidar os filhos a dividir algumas responsabilidades com o cuidado da casa, conversar sempre sobre o que está acontecendo e sobre outros assuntos também. A leitura e as atividades culturais, muitas vezes deixadas em segundo plano, são extremamente educativas e podem fortalecer aprendizagens escolares fundamentais.
É possível estimular uma série de competências e habilidades com a ampliação do repertório de livros, filmes, séries, documentários, jornais, revistas, artes plásticas, podcasts, jogos, games, entre outras linguagens. Lembre-se também que crianças e adolescentes são sujeitos em desenvolvimento tanto intelectual e emocional quanto fisicamente. Então, não se esqueça de proporcionar algum tipo de atividade física, sobretudo para os menores, que têm mais energia para gastar.
– Você não é professor. E tudo bem não se lembrar desde a fórmula de Bhaskara até a queda do Império Bizantino, passando pelas regras de acentuação e os reinos e filos biológicos. Ou ainda, não saber a melhor forma de explicar algo a seu filho. Professores são profissionais formados para isso. Seu papel é de facilitação e mediação. O importante é contar com o material disponibilizado pela escola e também aproveitar para desenvolverem juntos as habilidades de pesquisa e seleção de informações.
– Seja parceiro da escola. Entenda que a escola continua tendo uma equipe dedicada a preparar materiais e atividades a distância, a atender dúvidas dos estudantes e que trabalhará arduamente para repor as aprendizagens desse período. Portanto, é natural que sejam mantidos os valores das mensalidades, apesar de não haver aulas presenciais.
Estudantes
– Mantenha uma rotina. Banho, café da manhã, trocar de roupa, pentear o cabelo etc. Faça tudo o que você fazia antes de ir para a escola, ainda que temporariamente ela seja a sala da sua casa ou a escrivaninha do seu quarto. Esse tipo de rotina é importante para nossa mente e nosso corpo irem se preparando para a atividade que realizaremos.
– Interação com os amigos. A gente sabe que nem sempre as atividades escolares são as mais interessantes ou fáceis de serem realizadas. Que tal pedir apoio para os colegas? Criar grupos de estudos pode tornar as coisas mais leves e ajudar naquela matéria que você tem mais dificuldade. Além disso, dá para matar a saudade da convivência com os amigos.
– Se precisar de ajuda, peça. Além de seus pais e responsáveis, a escola deve disponibilizar alguns momentos e canais de interação com professores. Aproveite essas oportunidades para tirar dúvidas. Mas lembre-se de respeitar os horários e canais propostos pela escola. Os professores não precisam estar a sua disposição 24 horas por dia por telefone, e-mail, WhatsApp, Facebook, Twitter e Instagram etc.
– Outros saberes. Você terá mais tempo livre, mas sem poder sair de casa para fazer tudo o que gosta de fazer durante as férias. É hora de aproveitar para investir em outras atividades que lhe despertam interesse e para as quais você nem sempre tem tempo. Livros, filmes, séries, documentários, jornais, revistas, games. As possibilidades são muitas. Aproveite o momento de ócio criativo.
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