Nessa semana, a notícia de que o país proporcionalmente mais vacinado do mundo estava passando por um novo aumento de casos de Covid-19 ligou um alerta. Com cerca de 60% de sua população imunizada, a situação das ilhas Seychelles colocou a eficácia da vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinopharm em cheque.
Apesar disso, o aumento de casos ainda não resultou em uma alta nos óbitos e a maior parte dos registros são de sintomas leves. Para tentar entender o que pode levar a um aumento no número de casos de coronavírus mesmo com a vacinação avançando, o Olhar Digital conversou com Flávio Guimarães da Fonseca, diretor de Sociedade Brasileira de Virologia.
Ainda não existem estudos específicos sobre a situação das ilhas Seychelles, mas o infectologista explica que existem alguns fatores que pode causar essa alta nos casos e que, até o momento, não há motivos para duvidar da eficácia da vacina.
“Não chega ser surpreendente. As vacinas que atualmente estão liberadas ou licenciadas para uso emergencial foram desenvolvidas com dois focos principais: evitar doença grave e evitar óbito. Tanto que nos testes de fase três, o resultado primário não foi a limitação na infecção, mas a limitação em caso grave de adoecimento e limitação de óbito”, explicou o especialista.
“A instrução global é que as pessoas vacinadas mantenham o uso de máscara, mantenham o distanciamento, porque a gente sabe que as vacinas não vão bloquear a infecção (…) as vacinas não são esterilizante, as pessoas podem se infectar se não tiverem um grau de cuidado”, completou ainda.
Situação nas ilhas Seychelles
De acordo com o Ministério da Saúde do arquipélago, mais de 2.400 pessoas foram diagnosticadas com a Covid-19 até a última sexta-feira (7). Isso significa que os casos mais que dobraram em relação à semana anterior, que teve menos de 1.100 casos. Entre os infectados, 37% havia recebido duas doses de vacina.
97% dos vacinados no país receberam o imunizante da farmacêutica chinesa Sinopharm, o restante, tomou a vacina da AstraZeneca. Nos testes de fase 3, o laboratório informou que a eficácia da vacina Sinopharm era de 79%. A Organização Mundial de Saúde (OMS), autorizou o uso emergencial do imunizante e ele deve integrar a Covax, iniciativa do órgão para levar vacinas para países menos desenvolvidos.
A diretora de imunizações da OMS, Kate O’Brien, inclusive, comentou o aumento dos casos nas ilhas Seychelles ao The Wall Street Journal. “A vacina Sinopharm realmente requer duas doses. E alguns dos casos que estão sendo relatados estão ocorrendo logo após uma única dose ou logo após uma segunda dose”, explicou.
Apesar de ainda não terem feito o sequenciamento genético do vírus circulante em Seychelles, acredita-se que a razão pode ser a variante B.1.352. Essa cepa, que foi descoberta na África do Sul, foi encontrada no arquipélago em fevereiro. Estudos envolvendo a vacina da AstraZeneca mostraram que ela é menos eficaz contra essa variante.
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“Algumas variantes surgem com mutações específicas que faz com que ela escape da resposta imune. Não completamente, mas parcialmente pelo menos. Ainda não existe nenhuma vacina sendo aplicada criada com a sequencia genética das variantes. As vacinas foram traduzidas a partir das cepas originais, consequentemente elas precisam ser adaptadas com o tempo. Mas é importante ressaltar que elas são parcialmente resistentes. Mas, se surgir uma variante muito resistente, as vacinas vão ter que ser todas adaptadas, o que não é nenhuma novidade, isso já acontece com a gripe”, completou Guimarães.
“Hoje nós estamos (no Brasil) com cerca de 10% da população vacina com duas doses e de 30% a 40% de infectados, que precisam ser contados como imunes também. Então você tem uma taxa de 40% a 50% de imunização da população. Mas a gente não está observando queda porque existe ainda um segundo fator importante que são as variantes”, finalizou o presidente da SBV.
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