As fabricantes de alimentos BRF e JBS estão entre as maiores processadoras de carne do mundo e costumam estampar manchetes dia sim dia também. A terceira maior empresa brasileira deste setor, por sua vez, tem uma marca conhecida e uma gestão pra lá de discreta. Trata-se da catarinense Aurora Alimentos, uma gigante que deve faturar 10 bilhões de reais e é uma rede de 11 cooperativas que reúne 65.000 famílias cooperadas.
A Aurora inaugurou em outubro, em Chapecó, sua nova unidade processadora de carne suína, a maior do país. O investimento de 268 milhões de reais permitiu dobrar a capacidade de abates para 10.000 por dia. Com isso, as unidades de suínos da empresa podem abater um total de 25.000 cabeças por dia. A Aurora também atua no mercado de aves — com 1 milhão de abates por dia — e, desde 2007, na produção de leite — com 1,5 milhão de litros diários. No total, a companhia fabrica mais de 800 produtos, entre eles cortes de carne, lasanhas e iogurtes.
A previsão da Aurora é crescer 10% em 2019 e outros 20% no ano que vem para alcançar um faturamento de 12 bilhões de reais. O avanço poderia ser maior, segundo Lanznaster, mas a principal barreira de expansão da empresa é a oferta de milho no oeste catarinense. Trazer o insumo de outros estados custaria caro e reduziria a competitividade. Levar a produção para regiões distantes também não faz sentido para uma empresa gerida por seus cooperados.
Como cooperativa central, a empresa administra outras 11 cooperativas em Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Cada uma delas tem uma cota da companhia. Os lucros não reinvestidos são distribuídos às famílias cooperadas. Há um conselho de administração, mas, no caso de decisões mais complexas, as filiadas podem promover assembleias para colher os votos dos cooperados. “Se algum cooperado não cumpre com a cota diária, ele é punido. O cooperativismo depende disso para dar certo”, diz o presidente Mario Lanznaster, há 50 anos na empresa.
Em outras empresas de carnes e suínos, como a BRF, que também tem operação industrial em Chapecó, as famílias integradas na cadeia produtiva seguem os padrões da empresa e recebem pelos lotes fornecidos, mas não têm participação nem recebem lucros.
Assim como suas concorrentes, a Aurora tem na exportação uma das principais fontes de receita. Atualmente, exporta para mais de 60 países e a unidade de Chapecó é a única do Brasil habilitada a embarcar carne in natura para o exigente mercado dos Estados Unidos. Para a Aurora, assim como para a BRF e para a JBS, este é o melhor ano das últimas décadas. O motivo vem do outro lado do mundo: uma peste está dizimando o rebanho suíno da China, responsável por mais da metade do consumo de carne de porco no mundo. De acordo com estimativas da Agrifatto Consultoria de Agronegócio, a chamada peste suína africana, altamente contagiosa, deverá levar à liquidação de 70% a 80% do rebanho chinês, de 340 milhões de cabeças, até o ano que vem.
Embora o otimismo tenha contagiado o setor de carnes no Brasil, Lanznaster reconhece que o súbito aumento da demanda é pontual. “Os chineses querem comprar tudo o que estiver disponível e eles pagam bem. Mas nós estamos preparados para quando o mercado se acomodar”, afirma. Para continuar crescendo, a Aurora conta com uma retomada mais forte do mercado doméstico, onde vai enfrentar uma competição cada vez mais intensa.
A reportagem completa sobre a Aurora e as oportunidades do cooperativismo estão na edição 1198 de EXAME, disponível nas bancas, tablets e smartphones.
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