Um travesseiro, um cobertor, poucas peças de roupas, um boné e um par de chinelos. Isso era tudo o que o morador em situação de rua Adalberto Alves de Araújo, de 51 anos, acumulou em muitas décadas de vida. Na noite da última quarta-feira, por volta das 22h, ele foi atingido e morto por uma bala perdida no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio. Adalberto foi mais uma vítima da violência que atinge o estado e que faz, a cada dia, novos alvos.
Nascido em Santa Isabel do Pará, no estado do Pará, ele deixou há cerca de 30 anos a família e veio para o Rio tentar uma vida melhor. Aqui, a falta de oportunidades e brigas com parentes levaram Adalberto a morar nas ruas e a conviver no meio da miséria. Pouco a pouco, ele perdeu a esperança de uma vida mais digna. Para comer, o homem dependia da compaixão daqueles que distribuem refeições. Na manhã desta quinta-feira, 12 horas após a morte, os pertences de Adalberto foram recolhidos por funcionários da Comlurb e jogados no lixo.
— Ele era bem quisto por todos: trabalhadores, banhistas e moradores de rua, sejam novatos ou antigos. Era muito tranquilo também, não arrumava confusão com ninguém — contou o voluntário de um projeto social que ajuda mais de cem moradores de rua no Recreio: — Uma de suas principais recordações era a mãe, que deve ter mais de 80 anos e ainda mora no Pará. Ele sempre falava dela durante as nossas rápidas conversas. O Adalberto acreditava que ela ainda estava viva. Acho que ele tinha o sonho de reencontrá-la um dia.
Foi esse voluntário que ajudou Adalberto a conseguir a segunda via da certidão de nascimento, há três anos, o que permitiu um novo documento de identidade. Seu atual endereço era o canto da Praia do Recreio, onde convivia com outros moradores em situação de rua. Adalberto era conhecido como Visconde de Sabugosa — personagem do ‘‘Sítio do Pica-pau Amarelo’’, obra de Monteiro Lobato — por causa do seu cavanhaque. Ele dormia sob a marquise do Centro Cultural do Surf, perto do Posto 12. Adalberto faria 52 anos no próximo dia 15.
De acordo com testemunhas, Adalberto foi baleado no tórax por volta das 22h de quarta-feira. O tiro foi disparado durante uma briga entre adolescentes. Ele jantava no momento do crime. Após buscas na região, no início da madrugada de ontem, agentes da Polícia Civil localizaram um menor com uma bicicleta, que foi identificado por outros dois como sendo o autor dos disparos.
— Um projeto social entrega quentinhas às quartas-feiras aqui na praça. Ele tinha ido pegar a dele e estava sentado comendo. Na hora que ouvimos os tiros, eu me abaixei e consegui me proteger dos disparos. Quando olhei para o lado, o Visconde disse que tinha sido baleado. Logo depois, ele caiu desacordado no chão e não acordou mais — comentou um homem, que também mora nas ruas.
Outras testemunhas, que estavam na praça e também pediram para não ter as suas identidades reveladas, confirmaram que o episódio começou com uma discussão. Três adolescentes estavam sentados próximos à orla da praia quando outro jovem, em uma bicicleta, iniciou o bate-boca. O ciclista teria chamado outro homem que, armado, começou a atirar em direção aos jovens, que fugiram correndo. Um dos tiros acabou acertando Adalberto.
— O cara na bicicleta começou a encarar o meu irmão. De repente eles começaram a discutir e o ciclista disse que ia voltar com outras pessoas para pegar a gente. Quando ele voltou, o outro estava armado. Ele disse que as coisas se resolviam na bala, não na conversa. Corremos eu e meu irmão para um lado, e o meu outro irmão, que tinha discutido com o ciclista, foi para o outro lado. Quando vimos que o morador de rua foi baleado, chamamos a polícia — explicou, logo após o crime, um dos envolvidos no caso.
Além da polícia, agentes da Secretaria estadual de Vitimização e Amparo à Pessoa com Deficiência do Rio também estão atuando no caso. O objetivo é tentar encontrar os familiares de Adalberto para que possam fazer a liberação do corpo no Instituto Médico Legal (IML).
A Delegacia de Homicídios (DH) da capital instaurou um inquérito para apurar as circunstâncias do assassinato do morador de rua. Em nota, a Secretaria estadual de Polícia Civil informou apenas que ‘‘foi realizada uma perícia no local e diligências estão em andamento para esclarecer o caso’’. No momento dos disparos, havia uma equipe do 31º BPM (Recreio dos Bandeirantes) nas proximidades. Os policiais militares estavam na esquina das avenidas Lúcio Costa e Gilka Machado e foram para o local, mas Adalberto já estava morto.
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