Até o último dia 19, a Autoridade Brasileira de Controle de Doping (ABCD) registrava 40 resultados positivos em 2019. No dia seguinte, foi acrescido um novo caso. Hoje, já são 43. Embora ainda esteja abaixo do total do ano passado (49), a velocidade com que cresce o número de episódios de doping no país chama atenção. Principalmente por faltar menos de um ano para os Jogos de Tóquio-2020.
— Fico muito triste quando ouço essas notícias — diz Luísa Parente, ex-ginasta e atual presidente do ABCD: — Do ponto de vista do programa mundial antidopagem, os órgãos têm que estar atentos e atuar. Alguns corretivamente. Outros, de forma preventiva. E falo de todo o sistema: comitês, confederações, atletas, familiares, pessoal de apoio, imprensa…
Os 43 resultados positivos equivalem a 0,67% das 6.377 amostras coletadas este ano. Em 2018, os casos de doping corresponderam a 0,64% dos 7.584 exames. De acordo com o órgão, 81 atletas cumprem suspensão definitiva (já foram julgados). Outros 25, provisória (processos ainda em andamento).
Estes números são apenas dos testes realizados pela ABCD. O leque é ainda maior. Os casos positivos no Pan de Lima, por exemplo, não entram nesta conta. E foram quatro: a judoca Rafaela Silva, o jogador de vôlei Rodriguinho, o ciclista Kacio Freitas e Andressa de Morais, do lançamento de disco. Até então, atletas do país só haviam testado positivo duas vezes em toda a história dos Jogos.
No último relatório divulgado pela Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês), em 2016 o Brasil era o oitavo com mais atletas flagrados. Itália, França e EUA formam o pódio.
Diálogo ruim dificulta
As três modalidades que dominam o ranking de doping no país são as mesmas em todo o planeta: fisiculturismo, futebol e ciclismo. É aí que vem à tona um dos maiores entraves na luta contra o problema: o relacionamento com as confederações. Com a de ciclismo, no centro das atenções pela quantidade de atletas flagrados, a ABCD classifica o diálogo como médio. Hoje, são 17 em suspensão (definitiva e provisória) na lista do órgão e mais 15 na relação da Federação Internacional (UCI, em inglês).
— A impressão é que nosso diálogo com a confederação não reverbera nas federações estaduais. E, sozinha, ela faz pouco. Então a coisa se perde — afirma o diretor-técnico da ABCD, André Siqueira.
Com a CBF, a relação é considerada boa. Assim como com o skate, modalidade marcada pela cultura do uso recreativo de drogas. Desde que ela entrou no programa olímpico, uma série de ações educativas têm sido realizadas com o Comitê Olímpico do Brasil (COB).
— Para ser olímpico, tem que estar dentro do regulamento. Realmente é uma modalidade com sua cultura. Mas eu diria que, de um ano para cá, a postura deles mudou bastante — diz Luísa Parente.
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